Descrição

Falar da condição humana, entre o brilho da imaginação e a sombra da morte, falar do desconhecido e do que está para lá do entendimento, sempre foram temas favoráveis à utilização da alegoria, entendendo esta como um procedimento que permite ou exige que um enunciado tenha uma segunda leitura. É esta a virtude da alegoria: construir “desvairados mundos”, tantos quanto a imaginação possa alcançar, mas levados pela mesma lei, a do conhecimento da referida “condição humana”, do seu ímpeto para diante, do conflito em que se revolve a sua existência. E é esta “constante” que torna a alegoria reconhecível e eficaz. Pela inventio se prende o leitor. E da produção desse delectare se torna mais fácil e mais eficaz a reflexão, que parte do particular para uma aplicação obrigatoriamente universal e que nos interroga sobre a fraqueza e a virtude dos homens. Sobre esta condição humana, fundada na consciência da fragilidade e na certeza da morte, mas capaz do heroísmo e do extraordinário, se funda a esperança dos homens, que é a sua razão de viver e de morrer.

(Sara Augusto, Introdução)